Existe um termo assim que seja o antônimo de soft opening? Se não existe, invento agora. Ando pensando muito em como sair das redes sociais, o que sempre me frustra porque, bem ou mal (mais mal do que bem) preciso das redes para divulgar meu trabalho. A questão é que mesmo com as redes, a presença digital de quem não é uma celebridade é muito pequena. Passamos despercebidos o tempo quase todo por conta das manipulações do algoritmo.
Desde o ano passado venho experimentando diferentes estratégias para ficar menos tempo nas redes. A única que tem funcionado com alguma eficácia é deletar os apps do celular. Eu já tinha feito isso com o Bluesky no ano passado (e nunca mais voltei a postar lá), e agora fiz com o Threads (do qual entro e saio desde o começo do ano) e com o Facebook (que uso com uma certa frequência mas que nos últimos meses tem sido frustrante porque quase ninguém tem visto meus posts). Ainda tenho o Instagram e provavelmente sempre terei porque administro a conta do curso de jornalismo da PUC-SP, que estou coordenando no momento, mas devo reduzir o tempo empregado na minha conta pessoal, postando apenas quando tiver novidades na área de publicações.
Além do trabalho na universidade, tenho me dedicado mais e mais à pesquisa científica, com foco no conceito de utopias logísticas, que será o tema da minha comunicação no XVIII Simpósio Nacional da ABCiber 2025. (Utopia Logística e o Capitalismo Algorítmico: : Notas sobre Infraestrutura, Aceleração e Cibercultura no Antropoceno é o título. Assim que souber mais detalhes sobre a apresentação, aviso.) E também a literatura: devo lançar um romance no fim do ano e estou me preparando para escrever o próximo.
Para isso eu preciso de tempo, concentração e paz de espírito – coisa que as redes sociais não dão. Por isso esse soft closing. Deverei postar bem menos nas redes de agora em diante, mas quando eu postar será algo relevante.
Cara, sabe que eu também sofro de um mal parecido? Eu sinto que para ser visto profissionalmente é necessário marcar presença digital, só que dá um trabalho desgraçado fazer isso, câmera, microfones, roteiros, edição, puta trabalho para construir alguma coisa decente. Aí, penso: eu deveria estar estudando, escrevendo, conhecendo e não fazendo videozinho. Todo mundo, ou grande parte dos meus concorrentes que estão se tornando “autoridades” nos assuntos e campos que disputamos profissionalmente tem podcast, tem instagram com informações, tem divulgação de trabalho no tiktok, enfim… tem tudo aquilo que eu gostaria de não ter. A autoridade hoje se constrói com presença na rede e não com conhecimento acadêmico, antes tinha que estudar por meses, escrever um artigo, semanas, passar por um crivo editorial, ser publicado em revistas de respeito, acessar mídia especializada… hoje resume-se um assunto em 3 minutos, impulsiona com dinheiro e pronto: selo de autoridade. Engraçado como quem sempre se encantou com o futuro, hoje abomina o presente (em questões tecnológicas). Eu queria zerar as redes sociais. Voltar a algo mais ingênuo, não que não fosse prejudicial de alguma forma, mas eu não me sentia tão escravo do Orkut como me sinto do Instagram.
Um abraço.
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Eu tenho uma fantasia que é a de voltar a ser totalmente analógico. Mas isso é impossível, e no fundo eu também não gostaria disso. Eu sou da geração que não via a hora de termos as grandes revoluções tecnológicas mudando as nossas vidas – e isso aconteceu, só que nem tudo mudou para melhor. Tenho estudado o capitalismo algorítmico para entender tudo isso, e me deprime. Mas é assim que vivemos agora. Ah, eu também não me sentia escravo do Orkut – mas aqueles eram tempos em que ainda havia um senso de comunidade na web. Hoje isso acabou.
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