A primeira postagem, digamos, de peso em 2024 é uma nova obsessão minha: listar filmes assistidos. Tenho a mania de começar todo ano lendo muito. De tempos em tempos, chego a selecionar livros mais pelo tamanho que pela qualidade: escolho sempre livros finos, com menos de 200 páginas (se for menos de cem, é ainda melhor), para ler um por dia. Comecei isso alguns anos atrás, quando me dispus a ler todos as aventuras do livreiro ladrão Bernie Rhodenbarr, escritas por Lawrence Block, e consegui. Foram onze livros em cerca de quinze dias (o último romance de Rhodenbarr, uma sátira misturando crime e ficção cientifica intitulada The Burglar Who Met Fredric Brown, saiu em 2022, depois dessa maratona). Eu me diverti muito me impondo essa nada desagradável missão.
Mas este ano tudo mudou. Não sei exatamente por que razão, mas decidi ler menos (talvez porque esteja justamente terminando de revisar e reescrever um livro, e isso me consome muito tempo de palavra escrita) e ver mais filmes, para arejar a cabeça. Embora eu nunca tenha feito nenhuma lista de filmes, tenho certeza de que quebrei um recorde pessoal: foram 41 filmes assistidos durante o mês de janeiro, do 1 ao 31. Tenho o hábito de ver dois ao mesmo tempo (não na mesma tela; alterno ao longo de um ou dois dias), e provavelmente foi isso o que me fez chegar a esse número.
Comecei de peito aberto e cabeça fresca, sem planejar o que veria. Dos 41, vi somente um no cinema, com Patrícia: May December (No Brasil, Segredos de um Escândalo), de Todd Haynes. Não gostamos muito; o tema é bom mas o filme, na tentativa de não entregar clichês, acaba sendo bastante anticlimático – e um pouco mais longo do que achamos que deveria ter sido. O resto foi tudo visto em streamings, a saber: Netflix, Amazon Prime, HBO, Star +, Disney +, MUBI, Telecine Play, Criterion Channel. Eis a lista completa, com o título de cada filme seguido do nome do diretor:
Laura – Otto Preminger
Encontros e Desencontros – Sofia Coppola
Moonage Daydream – Brett Morgen
Nope – Jordan Peele
The Northman – Robert Eggers
Polite Society – Nida Manzoor
Bell, Book and Candle – Richard Quine
Rebellès – Allan Mauduit
The Day the Earth Caught Fire – Val Guest
Maestro – Bradley Cooper
Retratos Fantasmas- Kleber Mendonça Filho
The Running Man – Paul Michael Glaser
Design for Living – Ernst Lubitsch
The Battle of Britain – Guy Hamilton
Hitchcock/Truffaut – Kent Jones
French Exit – Azazel Jacobs
La Sociedad de la Nieve – J. A. Bayona
The One – James Wong
Threads – Mick Jackson
Lawrence da Arábia – David Lean
The Creator – Gareth Edwards
Chateau Paris – Modi Barry e Cédric Ido
Godzilla – Ishiro Honda
Segredos de um Escândalo – Todd Haynes (cinema)
Rogue One – Gareth Edwards
The Lair of the White Worm – Ken Russell
Saltburn – Emerald Fennell
Escape from New York – John Carpenter
A Jovem Victoria – Jean-Marc Valée
Os Demônios- Ken Russell
Almoço em Agosto – Gianni di Gregorio
John Wick 2 – Chad Stahelski
John Wick 3 – Parabellum – Chad Stahelski
Night Nurse – William A. Wellmann
On the Rocks – Sofia Coppola
Pickpocket – Robert Bresson
John Wick 4 – Chad Stahelski
The Women – Diane English
Altered States – Ken Russell
Maigret – Patrice Leconte
Nightmare Alley – Edmund Goulding
Algumas estatísticas:
. Dos 41, só cinco filmes foram dirigidos por mulheres;
. Vi dois filmes ou mais do mesmo cineasta: dois de Sofia Coppola e Gareth Edwards e três de Chad Stahelski e Ken Russell;
. Dos 41, onze foram vistos novamente; alguns pela segunda vez, e com pelo menos um deles (Lawrence da Arábia, um dos meus favoritos de todos os tempos) perdi a conta de quantas vezes já vi – provavelmente por volta de quinze.
. Vi seis filmes falados em línguas que não o inglês: três em francês, um em espanhol, um em italiano e um em português;
. Vi somente um filme brasileiro (Retratos Fantasmas, que recomendo fortemente);
. Vi nove filmes com minha mulher, Patrícia: um no cinema e os demais em streaming.
Os filmes foram listados na ordem em que os assisti/assistimos, sem classificação de qualidade; entretanto, me reservo o direito de recomendar que vejam os que mais gostei e, da mesma maneira, sugerir que passem longe dos que não gostei. A saber:
Os que mais gostei:
. Moonage Daydream – documentário fundamental para quem ama David Bowie, com imagens de arquivo pouco exibidas e bem pouca linearidade, o que é muito saudável em tempos de filmes “quadradinhos”;
. Lawrence da Arábia – um dos mais belos filmes já feitos na história do cinema, de todos os cinemas. É pra ver na tela grande (o que vi uma vez na vida, mas ainda quero ver de novo se for possível);
. Altered States – Viagens Alucinantes (título brasileiro, meio fora da casinha mas que faz todo o sentido) é um filme sobre um homem nada lúcido que se deve assistir sem influências entorpecentes para melhor desfrute (mas se quiser pode). O primeiro que vi de Ken Russell
. Os Demônios – Eu nunca tinha visto esse filme. Aproveitei a maratona Ken Russell do Criterion Channel e estou me esbaldando (ainda restam vários para ver, o que tentarei fazer agora em fevereiro); esse é um filme forte (graças ao roteiro baseado em parte no livro Os Demônios de Loudun, de Aldous Huxley) e com um set design beirando o expressionismo, feito por um Derek Jarman em começo de carreira (eu não sabia disso e foi uma bela surpresa ver o nome dele nos créditos); é daquele que sei que verei de novo, e, agora que voltei a ter DVDs, comprarei nessa mídia assim que possível;
. Retratos Fantasmas – essa viagem sentimental de Kleber Mendonça Filho mexeu comigo, que vi meus primeiros filmes ainda criança no Cine Carmoly, da Praça do Carmo, embaixo do prédio onde meu avô vivia; aqui o foco é o Recife, mas senti o impacto da nostalgia se comigo tivesse sido – e foi, porque somos contemporâneos (ele tem 55 anos e eu, 57). É um filme lindo, que também vou rever, mas não tão cedo, porque dói.
Corra que o filme ruim vem aí:
. French Exit – Saída à Francesa, como diz o título em português, é o que você precisa fazer no instante em que esse filme for exibido em qualquer lugar onde você esteja. Michelle Pfeiffer exagerada num filme produzido e escrito pelo autor, com base no seu romance muderninho novaiorquino que pode fazer sentido num livro, mas não no cinema; não é experimental, é ruim mesmo;
. The Creator – Resistência é um dos filmes mais fracos que vi nos últimos tempos. Pena, porque Gareth Edwards conseguiu fazer um bom trabalho com Rogue One, tornando-o um dos melhores da franquia Star Wars. Mas este filme é apenas uma história fraca e boba sobre pobres IAs tentando ser felize snum mundo que não as aceita e as chama de terroristas, com referências óbvias às Guerras do Vietnã e do Golfo. Efeitos visuais bonitos, mas até a minha suspensão de descrença (aceito de um tudo) caiu por terra no instante em que robôs sem órgãos vitais levavam tiros na altura do peito e do tronco e caíam mortos. Tudo tem limite, Gareth.
.The Battle of Britain – Esse filme de 1969 foi dirigido por Guy Hamilton, que dirigiu nada menos que quatro filmes de 007, entre eles Goldfinger e O Homem da Pistola de Ouro. Só que este aqui ficou uma porcaria, infelizmente: muitos atores excelentes bem mal aproveitados e cenas de batalhas aéreas em excesso sem quase nenhuma história para amarrar isso. Só vale a pena para quem quiser ver um jovem Ian McShane num de seus prímeiros papéis.
Gostei da maioria dos demais, por diferentes razões, que não elenco aqui por falta de tempo. No começo do próximo mês publico a lista dos filmes de fevereiro, que já comecei a assistir.



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