uma história alternativa da ficção científica – criada por uma IA?

Quem soou o alerta foi o escritor Octavio Aragão ontem no Facebook. Um site, que supostamente seria da Bienal do Livro de Juiz de Fora, publicou um artigo interessantíssimo chamado “21 Livros que Vão Transportar Você para Outros Exoplanetas”. Esse artigo, como já diz o título, relaciona obras de vários autores conhecidos do publico leitor de ficção científica e fantasia, como André Vianco, Braulio Tavares, Luiz Bras e o próprio Octavio.

Só há um problema: nenhum dos livros mencionados existe. E alguns dos autores já se manifestaram a respeito, como Luiz Bras (heterônimo de Olyveira Daemon, the writer formerly known as Nelson de Oliveira). “Planetas Desconhecidos: Uma Odisseia Interplanetária” está lá, elencado como um de seus livros. E, parafraseando André Bazin, “eis o mais belo livro, mas ele não existe”.

Ainda que eu não concorde nem um pouco com Yuval Harari e sua análise estapafúrdia de que as IAs tem cinco por cento de chance de acabar com a humanidade (não concordo porque o capitalismo já está fazendo isso, obrigado), acho que estamos chegando a um turning point em que as fronteiras entre o ficcional (ou metaficcional) e o real vão ficar cada vez mais borradas. Só vai sair desse labirinto quem tiver lido, estudado, pesquisado, enfim: coletado informações e refletido sobre elas a fim de ter conhecimento.

Um exemplo concreto, visto também hoje no Facebook: o crítico de arte Tadeu Chiarelli comentava que conversou com três pessoas na casa dos trinta e mencionou de passagem a atriz francesa Brigitte Bardot. Nenhum deles (e, como frisou Tadeu, todos tinham cursado a universidade) fazia a menor ideia de quem foi Bardot.

A minha geração (estou com 57 anos) talvez tenha sido a última a ter uma vida analógica, sem dispositivos digitais portáteis, computadores pessoais e redes sociais. Eu continuo achando que tudo isso facilitou a nossa vida e estaríamos muito mal sem, mas a chamada “informação na ponta dos dedos”, como disse Bill Gates ainda no século passado, não parece ter ajudado em nada no processo de aquisição de conhecimento. Talvez por causa do excesso de opções e da dispersão?

Enquanto isso, como eu mesmo disse ao Luiz Bras, “No futuro, todos estarão em listas de 15 livros”, frase de Andy Warhol, que nunca disse isso, mas segundo o ChatGPT 4, poderia muito bem ter dito. E, parafraseando Nelson Rodrigues (alguém aí ainda lembra quem foi Nelson?), se os fatos não dizem isso, “pior para os fatos”. Vida (artificial) que segue.

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