uma pequena inquietação

Volto aos posts aqui depois de dois meses com algo que tem me inquietado. Estou me preparando para um segundo pós-doc, e uma das coisas que tenho investigado nos últimos tempos, atrelada ao conceito de utopias logísticas, é o romance de sistemas. O conceito, criado por Tom LeClair, faz alusão à teoria dos sistemas do biólogo austríaco Ludwig von Bertalanffy, que estudei no doutorado mas até pouco tempo atrás não havia entrado no meu radar acadêmico. Basicamente, ele envolve a criação de uma trama literária dentro de um cenário com grande nível de complexidade.

Até aí, tudo bem: não faltam livros que se encaixem nessa categoria. Só LeClair de cara já seleciona vários, entre eles O Arco-Íris da Gravidade, de Thomas Pynchon, Underworld, de Don DeLillo (um dos favoritos de LeClair) e J.R., de William Gaddis. Todos calhamaços de no mínimo 400 páginas, com narrativas costumeiramente fixadas na história dos EUA, através de uma figura ficcional (que orbita ao redor de várias outras, ficcionais e do mundo real) e se expande para abranger diversas áreas do conhecimento e tentar explicar o mundo em que vive o protagonista.

Ontem tive acesso a um livro recente sobre romances de sistemas, chamado Paper Empires, voltado à obra de Gaddis. E aí me dei conta: ao longo desse tempo que tenho pesquisado o romance de sistemas (pouco mais de um ano), não encontrei um só livro desse tipo escrito por uma mulher. Ontem lancei a pergunta ao éter das mídias sociais e alguns amigos anglo-americanos me sugeriram vários nomes, entre eles Amalgamemnon, de Christine Brooke-Rose (que até onde sei jamais teve algum livro publicado no Brasil, mas que teve um ensaio publicado dentro do livro Interpretação e Superinterpretação, editado por Umberto Eco) e A Visita Cruel do Tempo, livro que ganhou o Pulitzer de Ficção de 2011, de Jennifer Egan. Já estou com este último e encomendei o outro. Vamos em frente com a pesquisa – agora com autoras, que para mim são indispensáveis no processo.

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