No começo do ano eu disse que não tinha certeza se continuaria a fazer listas ou não. Por via das dúvidas, continuei anotando as informações sobre os filmes – e outro dia mesmo, me deparei com uma lista de livros que fiz em 2001 num dos meus primeiros blogs, incrivelmente ainda no ar, e me dei conta de que eu sempre gostei mesmo de listas, então deixo de bobagem e sigo publicando por aqui enquanto eu tiver vontade, e vontade não está faltando. Foram 24 filmes, bem menos que em janeiro de 2024, quando vi 41 filmes, soma que nunca mais foi igualada (e não deverá sê-lo tão cedo). Vamos à lista de janeiro:
Miller’s Crossing – Joel Coen
The Homeland of Electricity – Larisa Shepitko
It’s Not Me – Leos Carax
Clube dos Vândalos – Jeff Nichols
Mulher de Verdade – Alberto Cavalcanti
O Truque do Amor – Umberto Carteni
Christopher Reeve, le Superman Éternel – Phillipe Guedj e Phillipe Roure
Salvo pela pizza – Alessio Lauria
O Preço da Herança da Vovó – Giovanni Bognetti
Party Girl – Daisy von Scherler Meyer
Lawrence da Arábia – David Lean
A Garota Francesa – James A Woods, Nicolas Wright
Twin Peaks- Fire Walk With Me – David Lynch
The True Adventures of Raoul Walsh – Marilyn Ann Moss
Austenland- Jerusha Hess
Star Trek Section 31 – Olatunde Osunsanmi
Feministas: o Que Elas Estavam Pensando? – Johanna Demetrakas
High Sierra – Raoul Walsh
Andança: os encontros e as memórias de Beth Carvalho – Pedro Bronz
Passage to Marseille – Michael Curtiz
Becoming Hitchcock: the Legacy of Blackmail- Laurent Bouzereau
Voyage to Metropolis – artem demenok
Nicholas Nickleby – Douglas McGrath
The Roaring Twenties – Raoul Walsh
Estatísticas:
Dos 24, revi dois: Party Girl (que eu tinha visto uns vinte anos atrás na TV a cabo) e Lawrence da Arábia. O clássico de David Lean é um dos meus top 3 (os outros são Casablanca e Blade Runner). Eu nunca havia revisto o filme cult de Parker Posey até semanas atrás, mas o Criterion Channel passou um minifestival de filmes dela e resolvi cair dentro. Já Lawrence é um velho conhecido: perdi a conta de quantas vezes vi. É um daqueles que eu preciso ver pelo menos uma vez por ano.
Com Patrícia eu vi cinco filmes, quase todos italianos; fazemos isso sempre que possível para lembrar da Itália e da língua italiana, que nos são tão caras. O Truque do Amor, Salvo Pela Pizza e O Preço da Herança da Vovó são todas comédias razoavelmente inteligentes e bem engraçadas, dá pra ver sem susto (todas na Netflix). A Garota Francesa tem o título enganoso, tanto em português quanto no original em inglês: a garota na verdade é canadense, ainda que do lado francês do país, o que naturalmente acaba gerando confusão com seu namorado americano (Zach Braff, de Scrubs, ainda vivendo o mesmo tipo de personagem, o que só é aceitável porque ele é simpático). Foi o menos divertido de todos: é o tipo de comédia romântica que não faz mais sentido para mim e Patrícia porque sempre nos perguntamos por que diabos pessoas que já vivem juntas há um tempo precisam guardar tantos segredos, coisas que nem faz mais sentido esconder? A resposta que nos vêm à mente é o puritanismo americano, igualmente ultrapassado mas que infelizmente ainda resiste. O que compensou foi o quinto, Feministas: o Que Elas Estavam Pensando?, do qual vou falar mais embaixo.
Idiomas: Este mês foi bom em diversidade linguística: dos 24, 15 foram em inglês, 3 em italiano, dois em francês, dois em português (o longa restaurado Mulher de Verdade, de Alberto Cavalcanti, que vi de graça no streaming do Festival de Locarno, e o documentário Andança: os encontros e as memórias de Beth Carvalho, que me emocionou muito e me fez cantar junto tantos sambas de Cartola, Nelson Cavaquinho e Arlindo Cruz), um em russo e um em alemão.
Já em filmes de/por mulheres, não fui muito bem. Foram cinco filmes somente: As ficções The Homeland of Electricity, da soviética Larisa Shepitko, Party Girl, de Daisy von Scherler Meyer, Austenland, de Jerusha Hess, e os documentários The True Adventures of Raoul Walsh, de Marilyn Ann Moss, e Feministas: o Que Elas Estavam Pensando?, de Johanna Demetrakas.
Os que mais gostei:
. Feministas: o Que Elas Estavam Pensando? – este filme foi que o mais nos impactou. O documentário de 2018 aborda o trabalho da fotógrafa Cynthia MacAdams, que publicou em 1977 um livro chamado Emergence, com fotos de mulheres de variadas idades e grupos sociais, e entrevista algumas das fotografadas, entre as quais Jane Fonda, Lily Tomlin, Judy Chicago, Laurie Anderson e Phyllis Chesler. É um documento de peso sobre o feminismo dos anos 1970 e suas lutas, e o que se ganhou e se perdeu em mais de quarenta anos. Na Netflix.
Passage to Marseille – filmaço de guerra dirigido por Michael Curtiz e com metade do elenco principal de Casablanca: Bogart, Claude Rains, Sydney Greenstreet, Peter Lorre e até mesmo Corinna Mura, a cantora do Rick’s Café Americain, que aqui faz uma ponta rápida. Bogart faz um jornalista francês preso (a la O Conde de Monte Cristo) por um crime que não cometeu e enviado para a IIha do Diabo, de onde foge para se alistar na luta contra os alemães na II Guerra. É bem mais movimentado que Casablanca e conta com o recurso de histórias dentro de histórias, o que me agrada bastante. Não é melhor que o meu favorito da dupla Bogart/Curtiz, mas me surpreendeu positivamente, e é outro que vou rever sempre que puder.
Corram que o filme ruim vem aí:
Star Trek Section 31 – É a primeira vez na minha longa história de fã da franquia Star Trek que vejo um produto dela ser unanimidade absoluta: não vi um fã sequer que pudesse dizer algo de bom desse filme. Não costumo descer ao nível do xingamento em se tratando de produtos culturais, mas se um filme na história de ST e do cinema em geral pode ser considerado uma merda absoluta, é esse. Basta dizer que foi prometida uma coisa (um filme sobre a mal-afamada Seçao 31, a black ops do universo de Star Trek, com agentes secretos que fazem o trabalho sujo para a utopia da Federação funcionar) e o que foi entregue não teve nada a ver com isso: uma comedinha ruim, quase uma chanchada, com excesso de truques de câmeras que hoje não agradam nem aos fanboys mais empedernidos, e onde só se salvou (e mesmo assim não o tempo todo) Michelle Yeoh, cuja personagem estava mal escrita e foi pessimamente aproveitada. Se quiser conferir (mas eu aconselho que não), Paramount.
