Não, não sou nenhum ludita. Não odeio o digital, pelo contrário: passei grande parte dos últimos trinta anos criando blogs e me metendo em todas as redes sociais que podia. Fiz mestrado e doutorado tendo como tema a ficção científica no contexto da cibercultura, e grande parte da minha carreira acadêmica girava e gira em torno da cultura pop vinculada às redes sociais e aos dispositivos móveis.
Mas tudo tem um fim, e talvez estejamos chegando num momento de decisão com relação às redes sociais. Eu deixei o Twitter antes mesmo de virar X, pouco depois que Elon Musk comprou aquela rede e anunciou seus planos de retirar todo e qualquer bloqueio ao discurso de ódio alegando uma liberdade de expressão que, sabemos, está longe de ser o objetivo real dele.
Hoje, com a notícia de que Zuckerberg vai acabar com a checagem de fatos na META (ao qual pertencem Facebook, Instagram e Threads), parece que acabamos de cair no alçapão no fundo do poço. As redes dele já não são confiáveis há muito tempo; inclusive estou lendo um livraço da jornalista filipina Maria Ressa que fala justamente de como o FB tem contribuído para a expansão das ditaduras no mundo (aguardem resenha). Agora acho que está na hora de deixar as redes da META.
Claro, não vai ser fácil. Entramos numa roubada federal quando nos deixamos levar pelas redes, a ponto de ficarmos meio perdidos mesmo. Não importa o quanto você sinalize virtude dizendo que não liga para nada disso, o fato é que quase todos nós nos tornamos extremamente dependentes dessas redes, seja para socialização (na pandemia elas foram de grande ajuda), seja para informação (e, de um modo ou de outro, elas ainda conseguem nos dar informações relevantes e verdadeiras) e – aqui penso no meu caso em particular – para divulgar meus livros de ficção e artigos acadêmicos.
O que fazer agora? Dá pra abandonar todas essas redes? É desejável? Não tenho resposta pronta para isso. O que posso fazer é pensar alternativas: existem redes que ainda são mais sadias, digamos, como o Bluesky e o Mastodon. Mas o que eu gostaria mesmo era, sem saudosismo, de me tornar um pouco menos digital e navegar por este mundo de cultura e informação sem aderir em excesso às redes. Não sei ainda como, mas este blog vai ver mais atividade que no ano passado. Sigamos.