A vertigem das listas: livros lidos em 2024

Conforme escrevi em um post no começo do ano passado, eu já fazia listas de livros desde pelo menos 1984 (embora eu ache que comecei a fazer isso alguns anos antes), mas sempre em cadernos, porque a internet ainda não existia, claro. Tenho em algum lugar do meu HD externo listas de vários anos, que em algum momento pretendo encontrar e postar aqui, mas não agora. Hoje posto a lista de livros que li ao longo do ano passado. Uma tradição que inaugurei na lista passada foi a de fazer duas listas: a de livros livros na íntegra e livros que não terminei por diversos motivos. Foi uma lista alentada: 45 livros finalizados e 37 por terminar. Este ano a lista é bem menor, em parte pelo desafio cinéfilo a que me propus em 2024, em parte porque dediquei metade do ano à finalização do meu livro mais recente, a aventura steampunk O TORNEIO DE SOMBRAS. Vamos a ela (lembrando que, como na lista anterior, os meus livros preferidos estão marcados em negrito, e a ordem aqui apresentada é de leitura):

Livros lidos na íntegra:

  1. Caminhando com os Mortos – Micheliny Verunschk
  2. Viagem ao Centro da Terra – Jules Verne
  3. Irmãs da Revolução (ed. Ann Vandermeer e Jeff Vandermeer)
  4. 8 Billion Genies – Charles Soule e Ryan Browne
  5. Asterios Polyp – David Mazzuchelli
  6. Saga – book 11 – Brian K. Vaughan e Fiona Staples
  7. O Instante Certo – Dorrit Harazim
  8. The Three-Body Problem – Cixin Liu
  9. Me and Mr. Jones – Suzi Ronson
  10. Tudo sobre o amor – bell hooks
  11. A Prateleira do Amor- Valeska Zanello
  12. A gente mira no amor e acerta na solidão- Ana Suy
  13. Mente Zen, Mente de Principiante – Shunryu Suzuki
  14. Web of Angels – John M. Ford
  15. Too Like the Lightning – Ada Palmer
  16. Tarso de Castro – Tom Cardoso
  17. Mountains of the Mind – Robert MacFarlane
  18. Monsters: a Fan’s Dilemma – Claire Dederer
  19. Lake of Darkness – Adam Roberts
  20. Gotham City Year One – Tom King
  21. The Human Target, volume 1 – Tom King
  22. The Human Target, volume 2 – Tom King
  23. Wonder Woman, Dead Earth – Daniel Warren Johnson
  24. Hominids- Robert J. Sawyer
  25. The Claw of the Conciliator– Gene Wolfe
  26. Humans – Robert J Sawyer
  27. Borges e os Orangotangos Eternos – Luis Fernando Veríssimo
  28. Hybrids – Robert J Sawyer
  29. The book of elsewhere – Mieville, Reeves
  30. Um Milhão de Mim – Cirilo Lemos
  31. Espero que eu não me apaixone por você – Cesar Alcázar
  32. Além do Véu da Verdade – ed. J.M.Beraldo
  33. Paradises Lost – Ursula K LeGuin
  34. Last and First Men – Olaf Stapledon
  35. Os Despossuídos– Ursula K LeGuin
  36. Ainda Estou Aqui– Marcelo Rubens Paiva
  37. O Olho de Gibraltar – Sérgio P. Rossoni
  38. Sonny Boy – Al Pacino

Livros lidos parcialmente:

  1. O Tiradentes – Lucas Figueiredo
  2. Cryptonomicon – Neal Stephenson
  3. O Despertar de Tudo – David Graeber e David Wengrow
  4. Dívida– David Graeber
  5. Repórter – Seymour Hersh
  6. World Without End – Ken Follett
  7. How to Focus – Thich Nhat Hanh
  8. A Geração Ansiosa – Jonathan Haidt

A proporção me surpreendeu, porque eu tinha a impressão de que havia deixado de finalizar um número bem maior de livros. A falta de foco foi bem menor que a do ano passado (apesar da ironia de ter deixado o livro sobre foco do mestre budista Thich Nhat Hanh pela metade). Os livros de David Graeber e o de Haidt são bons demais para leituras apressadas. Sigo lendo devagar cada um e fazendo anotações para futuras pesquisas: os três me foram muito úteis nas aulas que ministro na faculdade de Jornalismo da PUC-SP. Não tenho mais muita esperança de finalizar Cryptonomicon algum dia (a menos que eu pudesse traduzi-lo: fica a dica para qualquer editora que estiver lendo este post), e o Ken Follett é uma leitura prazerosa que vou retomar este ano, mas somente depois de reler com ainda mais prazer a trilogia de Thomas Cromwell escrita por Hilary Mantel.

Dos livros finalizados, os que mais me surpreenderam foram Web of Angels e Too Like the Lightning. Ambos me resgataram o sense of wonder típico da boa literatura de ficção científica, que eu não sentia fazia tempo (um dos problemas que se tem com a idade e o volume de livros lidos desse gênero ao longo da vida). O primeiro, escrito por John M. Ford e publicado em 1980, é o que Cory Doctorow chamou, no prefácio da edição mais recente, um cyberpunk alternativo: ambientado num futuro distante, ele tem como protagonista um hacker que domina um computador baseado num modelo da época no nosso mundo, numa estrutura inteiramente diferente da que usamos hoje, mas com o mesmo recurso de realidade virtual que William Gibson usaria quatro anos mais tarde em Neuromancer. Esse livro tem uma pegada mais para Samuel Delany em Nova e Babel-17, aliás, e uma curiosidade que me impressionou: Ford usa o termo Web para se referir à realidade virtual criada por seus computadores desse universo, deixando muito clara a metáfora de uma teia de aranha, algo que só viria a ser usado dez anos depois por Tim Berners-Lee ao criar a interface gráfica da World Wide Web. Em Too Like the Lightning, Ada Palmer me surpreendeu por utilizar um recurso ousado, que tinha tudo para dar errado: um narrador em primeira pessoa que, no século 25, tem a afetação erudita de usar uma prosódia do século 18, algo que poderia ser entediante mas só fez despertar minha curiosidade para saber que mundo tão diferente do nosso era aquele. São leituras que recomendo fortemente, e espero (fica outra dica aí) que alguma editora se interesse em traduzi-los aqui no Brasil.

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