Este ano o mês de agosto passou de modo surpreendentemente veloz – tanto que foi o mês em que menos vi filmes. 15 filmes em 31 dias – um pouco porque voltei a ver séries com mais frequência, mas também porque passei o mês dividido entre faculdade e a revisão do meu último romance, que só foi finalizado no dia 6 de setembro. Esse número poderia ser vergonhoso em termos de cinefilia, mas não para o meu desafio: dos 15, 12 foram dirigidos, roteirizados e/ou protagonizados por mulheres, portanto cheguei certinho a 80%, que era a cifra esperada. Vamos à lista:
The Lady Eve – Preston Sturges
Faye- Laurent Bouzereau
The Palm Beach Story – Preston Sturges
Os Três Mosqueteiros, II – Milady – Martin Bourboulon
Wicked Little Letters – Thea Sharrock
Irvin Kershner – The Eyes of Laura Mars
The Heroic Trio – Johnnie To
Rainha do Everest – Lucy Walker
The Women – George Cukor
Babilônia – Damien Chazelle
Doleira, a História de Nelma Kodama – João Wainer
The Beast – Bertrand Bonello
A Boa Esposa – Martin Provost
Mr. Malcolm’s List – Emma Holly Jones
Shaun of the Dead – Edgar Wright
Estatísticas:
Dos 15, eu só havia assistido um, o último. Todo Mundo Quase Morto – título engraçadinho para o já clássico Shaun of the Dead, de Edgar Wright, com a genial dupla Simon Pegg e Nick Frost, primeiro da trilogia Cornetto, e que está completando vinte anos. Melhor média de filmes inéditos até agora – inclusive com um ineditíssimo: o excelente The Beast, adaptação muito livre de A Fera na Selva, de Henry James, feita por Bertrand Bonello.
Não vi nenhum filme no cinema. Quase fui ver Wicked Little Letters, mas por acaso descobri que estava na Netflix britânica, então vi em casa mesmo. Fiquei tentado a ver Alien: Romulus, mas não me interessei o bastante para ver na tela grande. Vou esperar sair na Disney + (o que é significativo, mas falo mais sobre isso outro dia). Também não vi nenhum filme com Patrícia, mas em épocas de muita atividade acadêmica a gente acaba vendo em horários separados, cada um no seu celular.
Idiomas? A maioria, como sempre, em inglês. Três em francês, um em mandarim (The Heroic Trio, filme de começo de carreira de Michelle Yeoh) e um falado metade em inglês, metade em tibetano (Rainha do Everest), além de um documentário em português.
Como nos demais meses, os filmes foram listados na ordem em que os assisti, sem classificação de qualidade; entretanto, me reservo o direito de recomendar que vejam os que mais gostei e, da mesma maneira, sugerir que passem longe dos que não gostei. A saber:
Os que mais gostei:
The Beast – conforme dito mais acima, esta é uma adaptação de um romance de Henry James, mas aqui os protagonistas se alternam entre três épocas diferentes: a década de 1910, a época atual e o ano de 2044. No futuro, depois de algum catástrofe não-especificada (mas pode ter sido uma pandemia ainda mais devastadora que a de COVID-19 e a Gripe Espanhola), uma mulher precisa se ajustar à nova sociedade governada por IAs benevolentes. Para tanto, ela faz uma terapia de vidas passadas (porque nesse mundo foi descoberto cientificamente que reencarnações existem) e se vê em outras duas vidas diferentes, sempre envolvida com o mesmo homem. As duas histórias passadas terminaram em tragédia, mas mesmo assim ela insiste em rever esse homem em sua encarnação futura. Um pouco previsível e esquemático, mas muito bem construído. Lea Seydoux genial nas três épocas. Gostei e vou rever.
Os Três Mosqueteiros, II – Não é um grande filme, mas talvez já possa ser considerado a melhor adaptação do romance de Dumas. Preciso rever o de Richard Lester, que vi na adolescência e lembro de ter gostado muito, mas convenhamos: este é um filme que só faz sentido de verdade se for falado em francês (a pronúncia do nome D’Artagnan pelos ingleses e americanos é algo tão vergonhoso que só isso deveria ser motivo para se proibir de filmar essa aventura em inglês). Os atores são excelentes (destaque para Eva Green como Milady), a cinematografia é belíssima e as lutas de espadas são espetaculares.
Corram que o filme ruim vem aí:
Tenho tido a sorte e a felicidade (e o tino também, ora) de escolher filmes bons para assistir, mas se eu puder recomendar dois para vocês nunca assistirem, me permitam:
Doleira – É simplesmente a história de uma pessoa sem nenhum escrúpulo moral. Não se trata de alguém que burlou alguma lei injusta, mas sim de uma pessoa corrupta e que se orgulha disso. O filme pode valer sim como estudo psicossocial, para futuras gerações entenderem o que nosso país se tornou e que, de certa forma, sempre foi. Vergonhoso.
Mr. Malcolm’s List – Alguns dos atores tentam salvar o filme, mas é constrangedor. Um sub-Bridgerton, cuja única virtude é ter (como a série da Netflix) um elenco racialmente diverso na época da Regência no Reino Unido. Mas a história não tem muito sentido: copia descaradamente Bridgerton, inclusive numa narração inicial que imita a outra (mas a outra é Julie Andrews, então nem tem comparação), e talvez a própria diretora tenha se dado conta do ridículo, porque depois de uns dez minutos de filme a narração desaparece para nunca mais voltar. Pena que o filme em si não tenha desaparecido.
