Filmes de Julho – e um relatório sobre o Desafio

Julho foi o mês mais fraco do ano em termos numéricos – mas não em qualidade. Foram 26 filmes em 31 dias; isso se deu porque julho foi o mês em que voltei depois de um longo tempo a assistir a série Doctor Who clássica, e passei quase todas as noites vendo primeiro um episódio do Segundo Doutor (Patrick Troughton) para depois começar um longa-metragem. Em compensação, foi o mês em que mais fui ao cinema: três filmes assistidos na tela grande, sendo dois com Patrícia (C’è Ancora Domani e Fausto Fawcett na Cabeça) e um sozinho (Deadpool e Wolverine). Além disso, tive um desafio a cumprir, proposto pela Patrícia, de ver pelo menos 80% de filmes dirigidos e/ou protagonizados por mulheres. Querem saber se eu consegui? Vamos à lista.

His Girl Friday – Howard Hawks
Variety – Bette Gordon
Theodora Goes Wild – Ryszard Boleslawski
The Awful Truth – Leo McCarey
Goyo – Marcos Carnevale
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain – Jean-Pierre Jeunet
Roadrunner – a film about Anthony Bourdain – Morgan Neville
It Happened One Night – Frank Capra
The Apartment – Billy Wilder
C’e Ancora Domani – Paola Cortellesi (cinema)
The Woman King – Gina Prince-Bythewood
Desaparecidos na Noite – Renato de Maria
The Naked Civil Servant – Jack Gold
Le Bonheur – Agnes Varda
Irma La Douce – Billy Wilder
Bonjour Tristesse- Otto Preminger
A Vingança Está na Moda – Jocelyn Moorhouse
Crisis on Infinite Earths, Part 2 – Jeff Wamester
Diálogos com Ruth de Souza – Juliana Vicente
Fausto Fawcett na Cabeça – Victor Lopes (cinema)
Mrs. Harris Goes to Paris – Anthony Fabian
Bacurau – Kleber Mendonça Filho
Morvern Callar – Lynne Ramsay
Artistas e Modelos- Frank Tashlin
A Chicken for Linda – Chiara Malta e Sebastien Laudenbach
Deadpool e Wolverine – Shawn Levy (cinema)

Estatísticas:

. Dos 26, eu já havia assistido 4: o que mais revi foi Amélie, um dos meus filmes favoritos. It Happened One Night, outro filme de que gosto muito (como quase todos os de Frank Capra), fica em segundo. Artistas e Modelos era um favorito da Sessão da Tarde, onde a dupla Jerry Lewis/Dean Martin reinou suprema por anos (e depois nas tardes de sábado). O menos visto até hoje foi Bacurau, mas isso vai mudar radicalmente nas próximas semanas, pois estou trabalhando num projeto acadêmico que envolve esse filme e ele será reassistido pelo menos mais duas vezes nas próximas semanas (talvez mais, se o projeto for aprovado – cruzem os dedos).

. No cinema vi três filmes: com Patrícia, o italiano C’è Ancora Domani, dirigido e estrelado por Paola Cortelesi, praticamente desconhecida no Brasil mas uma atriz celebrada na Itália, de quem já vi a enraçadíssima comédia Come un Gatto in Tangenziali, e a pré-estreia paulistana de Fausto Fawcett na Cabeça. Fausto, amigo de duas décadas com quem já troquei muitas ideias e prefácios de nossos livros (ele em Os Dias da Peste, eu em Santa Clara Poltergeist). De resto, vi sozinho o terceiro filme ontem, Deadpool e Wolverine. Mas no streaming eu e ela vimos mais cinco filmes: Goyo, sobre um rapaz autista que se apaixona (mas no fim se revela tóxico do mesmo jeito que os homens neurotípicos, o que nos incomodou porque o filme o defende – e eu, como autista, não posso defender um macho tóxico só porque ele é neurodivergente), Roadrunner, A Vingança está na Moda e Mrs. Harris Goes to Paris, este dois últimos sobre moda e muito bons. Sobre o quinto eu falo mais abaixo.

. Com relação a idiomas, foram oito filmes falados em idiomas que não o inglês: três filmes em francês, um em espanhol, um em italiano e três em português, vejam vocês. Não é o melhor número internacional do ano, mas também não é o pior. A ideia também é ver filmes mais diversos linguisticamente no resto do semestre – e mais brasileiros, certamente.

. Finalmente, o Desafio: dos 26, 8 eram dirigidos por mulheres, mas outros 8 eram protagonizados por mulheres, então o total foi de 16 filmes, o que dá 60%, e não 80%. Mas gostei do desafio, e vou continuar procurando a proporção áurea de 80.

Como nos demais meses, os filmes foram listados na ordem em que os assisti, sem classificação de qualidade; entretanto, me reservo o direito de recomendar que vejam os que mais gostei e, da mesma maneira, sugerir que passem longe dos que não gostei. A saber:

Os que mais gostei:

este foi um mês muito saboroso em termos de qualidade (volta e meia mediada por nostalgia): foram muitos os filmes de que gostei genuinamente – embora em vários mais antigos, como por exemplo o filme de Frank Capra e o de Frank Tashlin, a quantidade de situações de assédio (mal) disfarçadas de romantismo, tenham me incomodado de um jeito que não o fariam uma década atrás (e esse incômodo é bom):

. His Girl Friday – essa é a segunda versão do roteiro genial de Ben Hecht sobre um jornalista que não consegue (literalmente) abandonar a profissão. Essa versão é gender-swapped, ou seja, o protagonista era homem mas um incidente na primeira leitura do roteiro (em que a atriz Rosalind Russell leu o papel de Hildy Johnson porque o ator havia faltado e todos adoraram) fez com que Hawks pedisse a Hecht para reescrever o roteiro. E deu muito certo. Junto com Cary Grant, Russell faz uma das duplas mais explosivas e engraçadas do cinema. É pra ver, rever, colecionar e exibir para todo mundo.

Amélie – Nem preciso falar muito desse filme. Continua tão bonito visualmente e narrativamente quando na época em que foi lançado, lá se vão quase vinte e cinco anos. Um dos favoritos da vida.

. Roadrunner – Confesso que só me liguei na existência de Anthony Bourdain depois de sua morte. Hoje sou um fã ardoroso desse sujeito tão incrível e tão torturado. Foi gostoso mas também muito duro ver os depoimentos dos amigos; todos estavam visivelmente emocionados, e eu e Patrícia também nos comovemos muito.

Corram que o filme ruim vem aí:

. Desaparecidos na Noite – olha, eu tento defender os filmes italianos, mas nos últimos tempos tem sido difícil. Esse filme é uma trama até que bem elaborada, mas por que diabos em toda separação, mesmo quando o homem é um bosta (como no caso deste filme, sobre um sujeito viciado em jogo que estraga a relação com a família) mas no fim a verdadeira culpada é a mulher? Evitem.

. Crisis on Infinite Earths – Já vi a parte um e a dois, e não vou ver a três. Não tenho nenhum problema com adaptações que se desviam muito do material original. Mas neste caso a DC parece ter seguido o Protocolo Zack Snyder: muita porrada e cara feia, e pouco roteiro. Tudo muito previsível e bobo, infelizmente.

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