pensata de sábado

Pensando em escrever um artigo sobre Mark Fisher e David Graeber como dois suicidados pela sociedade, à maneira de Antonin Artaud. O primeiro literalmente; o segundo de modo figurado, mais pelo estresse cotidiano. Mas ambos são vozes neste deserto de ideias do século 21, vozes que são abafadas pela linguagem-linkedin de autores como Yuval Harari e Slavoj Zizek (ainda que este último seja um filósofo sério, apesar da questão da celebridade).

Mas sério: lendo Graeber agora em seu livro Dívida e relendo Realismo Capitalista de Fisher, não consigo parar de pensar em como absolutamente tudo o que nos cerca é regido pela sombra titânica do Capital, tão completamente que qualquer pensamento em contrário é dispensado como bobagem ou talvez loucura (Foucault, here’s looking at you kid), e todos seguem a lógica de Wittgenstein, que dizia que sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar.

O que não se pode falar é que o capitalismo é um sistema indefensável e terrível para 99 por cento da humanidade, mas que ainda assim o seguimos por acreditar que “não há alternativa” (palavras pavorosas de Margaret Thatcher nos anos 1980). Eu também acredito que não há, pelo menos não nas próximas gerações – ainda mais com o fascismo nosso de cada dia, que saiu dos esgotos alguns anos atrás e não vai voltar para lá. Aos que dizem “não passarão”: eles já passaram.

Então o que nos resta? Dançar um tango argentino? Sim, isso: dançar muito, comer bem, beber e fumar o que se quiser, fazer muito amor que amor não faz mal, e se possível não vender sua alma, que ela pelo menos ainda não precisa ser vendida. Resta-nos documentar, registrar, deixar nossa marca no mundo, para que um dia arqueólogas futuras saibam que, eras antes, houve alguém que disse: eu não me conformo.

(PS: a Masterclass Mark Fisher foi cancelada porque Patrícia estava se sentindo mal desde quinta. Achamos que fosse Covid; o teste deu negativo, mas ela precisava descansar e por isso optei pelo cancelamento. Mas darei um curso online em breve.)

Um comentário sobre “pensata de sábado

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